quarta-feira, 4 de novembro de 2009

espasmo

Trânsito parado. Um quilômetro de carros, vermelhos e reluzentes, laranjas, amarelos e barulhentos. Eu, parada. Do ônibus, a vista da fila interminável de carros era o sinal desesperado da Modernidade. Bem a frente dos meus olhos. Ele passa ao longe. O corpo negro, sem camisa ou sapato. Retinto, passa furtivo pela calçada. A mim, cabe acompanhar seus passos da janela apertada. Parada. A angústia da inércia consome meus pensamentos. Como chegar? O peito está pesado, claustrofóbico. Os dias atuais têm sido assim, já não se pode ir a qualquer lugar. Olho novamente pela janela. Ele já não desce calmamente a alameda. Corre. Corre desembestado. Corre negro e seminu pela calçada. Ele é o meu desejo. Negro. Nu. Correndo por aí.

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